1) Conceitos rápidos

• Filial: estabelecimento secundário com o mesmo CNPJ raiz da matriz, porém com CNPJ completo próprio, endereço e inscrições específicos (estadual e/ou municipal).
• Por que abrir: expansão geográfica, ganhos logísticos, exigências de licitação/atendimento local, redução de tributos indiretos, proximidade com o cliente.
• Por que encerrar: baixa performance, sobreposição de cobertura, custos fixos altos, mudanças regulatórias, migração para canais digitais.

2) Quando abrir (ou não) uma filial

Abra se:

• A demanda local sustenta custos fixos (aluguel, pessoal, utilidades) e gera margem incremental.
• Existem ganhos fiscais (ex.: melhor tratamento de ICMS/ISS ou redução de ST/DIFAL pela origem/destino).
• Há requisitos regulatórios (ex.: provedor de internet com necessidade de licença municipal/estadual; varejo com alvarás).

Evite se:

• O volume pode ser atendido por ponto de apoio (sem filial formal) ou por parceiros/centros de distribuição.
• A complexidade de obrigações acessórias por estabelecimento supera o benefício.

3) Impactos contábeis (o que muda na prática)

3.1 Plano de contas, centros de custo e rateios

• Crie centros de resultado por filial para DRE gerencial (receita, CMV/CPV, despesas diretas e rateios).
• Padronize o plano de contas e regras de rateio (aluguel, TI, marketing, backoffice).

3.2 Estoques e transferências internas

• Movimentações entre matriz/filiais exigem documentação fiscal (nota de transferência) e precificação de transferência clara (para não distorcer margens).
• Controle perdas/rupturas por estabelecimento para acertar o giro e o capital de giro.

3.3 Imobilizado e depreciação

• Registre imobilizados por filial (para facilitar baixa/transferência na desativação).
• Alinhe taxas de depreciação e rastreie a localização do ativo (inventário físico periódico).

3.4 Consolidação contábil

• ECD/ECF e demonstrações societárias são consolidadas pelo CNPJ raiz (matriz), mas a gestão precisa de visão por filial (DRE e balanço gerenciais por unidade).

4) Impactos fiscais (onde mora o risco)

4.1 Tributos indiretos por estabelecimento

• ICMS (varejo e telecom – serviços de comunicação): a EFD ICMS/IPI é, via de regra, por inscrição estadual. Cada filial com IE própria terá escrituração e apuração separadas.
• ISS (serviços, inclusive SVAs de telecom): regra municipal; cada IM pode exigir declaração própria e retenções específicas.
• Substituição Tributária (ST) e DIFAL: abrir filial em outro estado pode alterar quem recolhe, alíquota efetiva e prazos. Planeje mix de produtos e fluxos logísticos.

4.2 Tributos federais e folha

• PIS/COFINS/IRPJ/CSLL: apuração consolidada pela matriz, mas com controles por filial para bases, créditos e alocação de receitas.
• Folha/eSocial/DCTFWeb: vínculos por estabelecimento (lotação) e consolidação no CNPJ raiz. Cuidado com CEIs/CAEPFs específicos (obras, por exemplo).

4.3 Obrigações acessórias

• Por estabelecimento: EFD ICMS/IPI, GIA (onde houver), declarações de ISS, livros e licenças locais.
• Centralizadas: ECD, ECF, DCTFWeb (consolidada), EFD-Reinf, DIRF substituída (atenção a mudanças), dentre outras.

Risco comum: tratar filial como “só um endereço”. Na prática, cada IE/IM cria um novo ecossistema de obrigações e prazos — multas por atraso são frequentes.

5) Impactos cadastrais (REDESIM, RFB, SEFAZ e Prefeitura)

5.1 Abertura

1. Viabilidade de endereço (Prefeitura/Junta).
2. Alteração contratual incluindo a filial (objeto/endereço).
3. DBE/REDESIM na Receita Federal para gerar CNPJ da filial.
4. Inscrição Estadual (se houver ICMS) na SEFAZ da UF.
5. Inscrição Municipal (ISS, alvará, TFF) e licenças (Vigilância, Bombeiros, etc.).
6. Cadastros auxiliares: concessionárias, correios, bancos, marketplaces, Anatel (para telecom, quando aplicável).

5.2 Encerramento

1. Distrato/alteração deliberando baixa da filial.
2. Baixa na Prefeitura (IM, alvará, TFF).
3. Baixa na SEFAZ (IE) — requer regularidade fiscal e arquivos finais.
4. Baixa no CNPJ da filial via DBE/REDESIM.
5. Arquivamento na Junta Comercial.
6. Encerramentos operacionais: rescisões, inventário final, transferência/baixa de estoques e imobilizados, distrato de contratos.

6) Tabela comparativa — abrir vs. encerrar

7) Exemplos práticos (telecom e varejo)

Exemplo A — Provedor de internet (telecom)

• Situação: ISP no regime Lucro Presumido decide abrir filial em cidade vizinha para acelerar ativações.
• Impactos:
  • ICMS Comunicação: apuração por IE da filial; atenção à partilha por município quando aplicável.
  • SVAs (ISS): se parte do faturamento for SVA, haverá ISS local na nova IM.
  • Cadastral: possível necessidade de licença municipal e comunicação à Anatel (quando a atividade exigir).
• Resultado: lead time de instalação caiu 30%, mas o custo de conformidade subiu (nova EFD ICMS, ISS local e alvarás). O ganho permaneceu positivo devido ao aumento de MRR.

Exemplo B — Varejo de eletrônicos (multiestados)

• Situação: matríz em SP com ST; decide encerrar filial no PR por baixa performance.
• Passos críticos:
  • Inventário final e transferência do saldo para outro estabelecimento (com NF de transferência).
  • Apuração final de ICMS/ST e entrega de EFD ICMS de encerramento da IE.
  • Baixas cadastrais: Prefeitura (IM/alvará), SEFAZ (IE) e DBE para baixa do CNPJ da filial.
• Armadilha comum: esquecer taxas/tarifas municipais (TFF) em aberto — impede a baixa.

8) Checklist rápido (para salvar nos favoritos)

Abertura

• Viabilidade de endereço
• Alteração contratual + DBE/REDESIM
• CNPJ filial + IE/IM
• Alvarás e licenças (Prefeitura, Vigilância, Bombeiros)
• Parametrização contábil (centros, estoques, imobilizado)
• Obrigações acessórias por estabelecimento (EFD/ISS)
• eSocial/DCTFWeb (lotação/estabelecimento)
• Cadastros com parceiros/bancos/marketplaces

Encerramento

• DRE final por filial + inventário final
• Transferência/baixa de estoques e imobilizado
• Rescisões e eventos trabalhistas
• Arquivos finais (EFD ICMS/ISS)
• Baixa IM/IE e regularidade fiscal
• DBE/REDESIM para baixa do CNPJ da filial
• Arquivamento na Junta Comercial

9) KPIs para decidir abrir/fechar

• Payback da filial (meses).
• Giro de estoque e ruptura por estabelecimento (varejo).
• MRR/Churn por área atendida (telecom).
• Ticket médio e custo de atendimento local.
• Custo de conformidade por estabelecimento (tempo + honorários + taxas).

10) Riscos e multas (e como mitigar)

• Atraso em obrigações por IE/IM → calendário fiscal por estabelecimento + responsável definido.
• Divergência de cadastro (endereços/atividade) → revisão cadastral trimestral.
• Transferência de estoque sem documentação idônea → política de NF de transferência e conferência física.
• Folha sem lotação correta → auditoria de eSocial antes da abertura/encerramento.

11) Passo a passo resumido

Para abrir filial

1. Estudo de viabilidade (financeiro + fiscal).
2. Viabilidade de endereço e alteração contratual.
3. DBE/REDESIM → CNPJ filial.
4. Solicitar IE (SEFAZ) e IM (Prefeitura) + alvarás.
5. Parametrizar contabilidade, fiscal e folha por estabelecimento.
6. Ajustar contratos (fornecedores, bancos, locação, marketplaces).
7. Iniciar operação com checklist de conformidade.

Para encerrar filial

1. Decisão formal e cronograma.
2. Inventário final e DRE de fechamento.
3. Transferência/baixa de estoques e imobilizado.
4. Rescisões e eventos em eSocial.
5. Arquivos finais (ICMS/ISS) e regularização de débitos.
6. Baixa IM/IE e DBE para baixa do CNPJ da filial.
7. Arquivar na Junta e comunicar parceiros.

Conclusão

Abrir e encerrar filiais exige disciplina contábil, planejamento fiscal e rigor cadastral. Quando bem estruturado, o movimento aumenta margem (ganhos logísticos/fiscais) e reduz riscos (compliance por estabelecimento). A chave é tomar a decisão com números, respeitando as obrigações locais e mantendo a governança por filial.

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